Introdução ao conceito de “tradições” em Paulo
Paradosis: No grego do Novo Testamento, Paulo usa termos como paredōka (“entreguei”) e parelabon (“recebi”), especialmente em 1 Co 15:3, para indicar a transmissão de ensinamentos cristãos já enraizados nas comunidades. Em 2 Ts 2:15, Paulo exorta os fiéis a “permanecer firmes e manter as tradições que lhes foram ensinadas, seja por palavra, seja por carta”. Isso mostra a importância da tradição oral além das cartas escritas.
Tradições pré-paulinas (credo, proclamações litúrgicas): Estas incluem fórmulas confessionais como a proclamação da morte e ressurreição de Cristo “por nossos pecados... segundo as Escrituras” em 1 Co 15:3–5 .
Comuns entre os estudiosos, essas tradições litúrgicas ou credos foram incorporadas por Paulo no texto de suas cartas.
Tradição oral e carta
2 Ts 2:15 enfatiza que os crentes devem reter tanto o ensino oral quanto o escrito por Paulo .
As Epístolas Pastorais (1 e 2 Timóteo, Tito) revelam uma Igreja já institucionalizada com cargos definidos (bispo, diácono, viúvas), diferentes do ambiente carismático das cartas autênticas de Paulo.
Isso indica que, mesmo posteriormente à morte de Paulo, a tradição dele continuou viva e foi adaptada a novos contextos.
Teologia paulina e tradições transmitidas
Justificação pela fé: O tema-chave em Romanos e Gálatas, defendendo que a salvação vem pela fé, não pelas obras da Lei. União com Cristo (em Cristo): Expressão frequente que define a identidade do crente e sua participação na vida, morte e ressurreição de Jesus. Pneumatologia: O Espírito Santo é apresentado como selo, garantia da salvação e princípio da vida nova (Ef 1.13-14; Gl 5.22-23). Igreja como Corpo: Em 1 Co 12 e Ef 4, Paulo mostra a diversidade de dons e a unidade comunitária. Escatologia: Especialmente em 1 e 2 Ts, sobre a volta de Cristo, esperança cristã e consolo aos perseguidos.
Tradições devocionais e creionais incorporadas
Hinos ou confissões como o de Fl 2.5-11 (kenosis, Cristo servo), ou 1 Co 13 (o Hino ao Amor), podem derivar de tradições litúrgicas cristãs antigas.
Escritos patrísticos como Clemente Romano, Inácio, Policarpo, 1 Clemente e até epístolas gnósticas, reinterpretaram Paulo com fins teológicos diferenciados. Isso evidencia como as tradições paulinas foram reelaboradas ao longo dos séculos .
As tradições nas cartas paulinas envolvem desde antigas confissões litúrgicas, passando pela transmissão oral e escrita, até o uso estratégico da teologia de Paulo para afirmar autoridade e orientar as comunidades. Sua recepção ministério se estende à Igreja antiga e patrística, marcando a liturgia, a eclesiologia e a ortodoxia cristã.